Mariana Chaves Petersen é doutoranda no Departamento de Inglês da Universidade de Miami. É mestra em Literaturas de Língua Inglesa pela Universidade de Miami e pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Apresentou em vários eventos e publicou em diferentes periódicos no Brasil, incluindo um trabalho sobre masculinidade lésbica na ficção brasileira contemporânea, publicado em Estação Literária e apresentado no VII Congresso Internacional de Estudos sobre a Diversidade Sexual e de Gênero. Tem interesse em literatura e cinema contemporâneos, estudos de gênero e sexualidade e estudos de migração.
Mariana Chaves Petersen is a Ph.D. student in the Department of English at University of Miami. She holds an M.A. in English from University of Miami and another from Universidade Federal do Rio Grande do Sul. She has presented several papers and published in different journals in Brazil, including a work on lesbian masculinity in contemporary Brazilian fiction, published in Estação Literária and presented at the VII Congresso Internacional de Estudos sobre a Diversidade Sexual e de Gênero. She is interested in contemporary literature and film, gender and sexuality studies, and migration studies.
Recriando Lota e Elizabeth: A Reacionária Sul-americana e a Democrata Norte-americana em Flores raras, de Bruno Barreto
Considerando o tratamento que o governo brasileiro vem dando ao cinema brasileiro LGBTTI+, é necessário que o último receba o reconhecimento que merece. Um filme brasileiro lésbico recente que recebeu considerável atenção foi Flores raras (2013), de Bruno Barreto. Ele retrata o período em que Elizabeth Bishop viveu com Lota de Macedo Soares no Brasil, entre Samambaia, Petrópolis, e Rio de Janeiro. Neste trabalho, analiso Flores raras em comparação com o romance Flores raras e banalíssimas, de Carmen L. Oliveira, e cartas de Bishop e argumento que o filme opõe Lota a Elizabeth ao representar a primeira como uma reacionária sul-americana e a segunda, como uma democrata norte-americana. No filme, o apoio de Lota ao golpe de 1964 é mais enfático que no romance, e existe uma sugestão de que os militares teriam mais tarde influenciado em sua hospitalização. Com o contexto da recepção do filme em mente, um momento de revisão histórica que levou à fundação da Comissão Nacional da Verdade, defendo que Flores raras tenta acomodar as expectativas dos espectadores contemporâneos criticando a posição política de Lota por meio de Elizabeth, que é construída como a outsider que consegue ver a situação claramente, apesar de a verdadeira Bishop também ter apoiado o golpe. O fato de Macedo Soares ter sido uma mulher lésbica à frente de seu tempo e também uma reacionária faz dela um afeto perturbador para mim e, acredito, para a maior parte da recepção LGBTTI+ brasileira do filme. Isso pode ter influenciado na decisão de retratar Elizabeth como a suposta voz da razão, que, do contrário, ficaria de fora da história. O resultado é o reforço dos EUA como uma democracia consolidada, enquanto a América do Sul é percebida como um lugar onde golpes são justificáveis, uma representação que, além de problemática, é historicamente falsa.
Flores raras, Lota de Macedo Soares; Elizabeth Bishop; Golpe Militar de 1964; Recepção
Recreating Lota and Elizabeth: The South American Reactionary and the American Democrat in Bruno Barreto’s Reaching for the Moon
Given the treatment that the Brazilian government has been giving to LGBTQ+ cinema, it is imperative that the latter receives the acknowledgment it deserves. A recent Brazilian lesbian film that received considerable attention is Bruno Barreto’s 2013 Reaching for the Moon. It depicts the period in which Elizabeth Bishop lived with Lota de Macedo Soares in Brazil, between Samambaia, Petrópolis, and Rio de Janeiro. In this paper, I analyze Reaching for the Moon in comparison to Carmen L. Oliveira’s novel Rare and Commonplace Flowers, and Bishop’s letters and argue that the film opposes Lota to Elizabeth by portraying the first as a South American reactionary and the second, as an American democrat. In the film, Lota’s support for the 1964 coup is more emphatic than in the novel, and the military are hinted as later influencing her hospitalization. With the context of the reception of the film in mind, a moment of historical revision that led to the foundation of the National Truth Commission, I claim that Reaching for the Moon tries to accommodate the contemporary viewers’ expectations by critiquing Lota’s political position through Elizabeth, who is constructed as the outsider who can see the situation clearly, even though the real Bishop also supported the coup. That Macedo Soares was a queer woman ahead of her time as well as a reactionary makes her a disturbing attachment to me and, I believe, to most of the queer Brazilian reception of the film. That might have influenced the decision to depict Elizabeth as the supposed voice of reason, which would otherwise be absent in the story. The result is the reinforcement of the U.S. as a consolidated democracy, whereas South America is perceived as a place where coups are justifiable, a portrayal that is not only problematic but historically inaccurate.
Reaching for the Moon; Lota de Macedo Soares; Elizabeth Bishop; 1964 military coup; Reception