É professor efetivo da rede estadual de ensino da Bahia desde 2011 e exerceu a função de Vice-diretor na Escola Estadual Solange Hortélio Franco e na Escola Estadual Pedro Calmon (2014 - 2018). Graduado (2011) e Mestre (2013) em História, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atualmente é Doutorando em História (UFBA), onde desenvolve o projeto “Modelando a Mocidade: Construindo ideias de comportamentos juvenis no Complexo IPES (1961 A 1969)”. Tem experiência em História Contemporânea da América Latina, interessa-se pelas relações entre Estados Unidos da América e Brasil, Cultura, Guerra Fria e Ditadura, tem especial interesse nos aspectos morais do controle sobre a juventude.
Caio has been a teacher (public servant) in the Bahia state school system since 2011 and has served as Vice principal of the Solange Hortélio Franco State School and the Pedro Calmon State School from 2014 to 2018. He holds an B.A. (2011) and M.A. (2013) in History from the Federal University of Bahia (UFBA). He is currently a PhD candidate in History at UFBA, where he is developing the project “Shaping Youth: Building Ideas of Youth Behavior in the IPES Complex (1961 A 1969)”. He has experience in Contemporary History of Latin America, and he is interested in relations between the United States and Brazil as well as Culture and the Cold War and Dictatorship, with a special interest in the moral aspects of the control of youth.
O Verão das "Calças Curtas": Masculinidades e Contestação Juvenil na Ditadura Civil-militar (1968)
No verão de 1968, na cidade de Salvador, capital do estado da Bahia, estudantes da Universidade Federal da Bahia - UFBA, modificaram seus trajes formais compostos por calças longas quase sempre de linho, devidamente presos por cintos e as camisas de botão, e adotam o uso das “calças curtas”, mais adequadas ao clima quente e tropical, para assistir às aulas. O que parece trivial nos dias de hoje, na época foi considerado um comportamento transgressor, tendo em vista as rigorosas normas de trajes estabelecidos nas universidades brasileiras. O episódio extrapolou questões puramente climáticas e estéticas, adentrando por questões morais e políticas. Nas páginas dos principais jornais em circulação na capital baiana podia se ler opiniões sobre o tema. Os rapazes adeptos da tendência, por um lado, foram ridicularizados em charges, que comparavam as “calças curtas” as minissaias. Condenava-se a quebra dos costumes, vendo na nova maneira de se vestir dos rapazes uma "subversão" juvenil e flexibilização da masculinidade. Havia aqueles que defendiam a ousada tendência por considerá-la mais adequada ao clima. Defendo nessa proposta que o evento ocorrido no verão de 1968 foi um momento em que a fronteira da masculinidade hegemônica foi ultrapassada, produzindo um fórum público sobre o que deveria ser o comportamento juvenil masculino nos anos 1960. Podemos, com isso, olhar o verão das “calças curtas” como um momento em que o silêncio normativo foi rompido, permitindo o acesso a noções conservadoras de masculinidade e de moralidade partilhadas por amplos setores da sociedade brasileira. Utilizando esse caso anedótico para argumentar como os jovens se utilizaram da estética como um campo de disputa política. Os novos comportamentos masculinos não-hegemônicos, por vezes invisibilizados pela própria historiografia, fizeram parte do repertório da resistência das juventudes, às vésperas do Movimento Tropicalista e das grandes manifestações estudantis de 1968.
Ditadura; Costumes; Juventude; Masculinidade; Roupas.
The Summer of "Short Pants": Masculinities and Youth Protest in the Civil-military Dictatorship (1968)
In the summer of 1968, in the city of Salvador, capital of the state of Bahia, students from the Federal University of Bahia - UFBA, modified their formal attire, which then consisted almost always of long linen trousers properly secured by belts and button shirts, and adopted the use of “short pants”, more appropriate to the hot, tropical climate, to attend classes. In a move that may seem trivial now, at the time, in view of the strict dress standards established in Brazilian universities, it was considered highly transgressive behavior. This episode transcended the purely climatic and aesthetic, crossing into the moral and political. Residents of Salvador could read opinions on the matter in the pages of the main newspapers in circulation in the capital of Bahia. On the one hand, the boys who followed the trend were ridiculed in cartoons, which compared “short pants” to women’s miniskirts. Journalists condemned the breaking of customs, which they saw in these new boys’ fashions, flexibilization of masculine norms, and other forms of youth "subversion" in general. Others defended the bold new trend, indeed considering it more suited to the climate. In this paper, I argue that the event that took place in the summer of 1968 was a moment when the frontier of hegemonic masculinity was crossed, producing public discussion around what male youth behavior should be in the 1960s. We can thus see the summer of “short pants” as a time when the normative silence was broken, allowing access to conservative notions of masculinity and morality shared by broad sectors of Brazilian society. I use this case to show that young people used aesthetics as a field of political dispute. On the eve of the Tropicalist Movement and the great student demonstrations of 1968, these new non-hegemonic male behaviors, often occluded by the historiography of this time period, were part of the repertoire of youth resistance to authoritarianism.
Dictatorship; Costumes; Youth; Masculinity; Clothes.