Bacharel em Ciências Sociais e Mestre em Antropologia Social pela UFRGS, Doutora em Antropologia Social pela USP, Lorena Avellar de Muniagurria é antropóloga e especialista em políticas culturais e ativismo cultural. Seus interesses de pesquisa incluem: patrimônio imaterial, diversidade cultural, cidadania, espaços participativos e democracia participativa. Atualmente, Muniagurria é pesquisadora de pós-doutorado na UNICAMP e bolsista da FAPESP. Foi pesquisadora visitante no Lemann Center for Brazilian Studies/UIUC (2019-2020) e no Graduate Center/CUNY (2015), bem como professora substituta adjunta nas seguintes universidades brasileiras: UFRGS (2008), UNESPAR (2009-2011), UFPR (2011) e UFSCar (2017). Sua dissertação, nominada para o Prêmio Capes de Tese 2017, foi publicada em livro: Políticas da cultura: trânsitos, encontros e militância na construção de uma política nacional (Editora Humanitas/FAPESP, 2018). Sua pesquisa atual, “O musicar do carimbó paraense: música, política e a construção de um patrimônio cultural brasileiro,” integra o Projeto Temático FAPESP “Musicar Local: novas trilhas para a etnomusicologia”. Esse projeto investiga o musicar do carimbó e suas relações com o universo das políticas públicas, analizando as implicações da patrimonialização do carimbó, assim como os impactos da atual crise política brasileira nas políticas de patrimônio e ativismo cultural. Muniagurria está atualmente trabalhando em um novo livro que combinará ambas suas investigações de doutorado e de pós-doutorado: seguindo a construção e a desconstrução da política cultural nacional do Brasil, o livro discute a ascensão e a queda de um determinado tipo de Estado, abordando algumas das principais mudanças na vida política contemporânea do Brasil.
With a master's in Social Anthropology (UFRGS) and Ph.D. in Social Anthropology (USP), Lorena Avellar de Muniagurria is an anthropologist and a specialist in cultural policies and cultural activism. Her research interests include intangible heritage, cultural diversity, citizenship, social participation, and participatory democracy. She is a post-doc researcher at UNICAMP and a FAPESP fellow. She was a visiting researcher at the Lemann Center for Brazilian Studies/UIUC (2019-2020) and the Graduate Center/CUNY (2015), as well as an Adjunct Professor at the following Brazilian universities: UFRGS (2008), UNESPAR (2009-2011), UFPR (2011), and UFSCar (2017). Her dissertation, nominated for the Prêmio Capes de Tese 2017, has been published as a book: Políticas da cultura: trânsitos, encontros e militância na construção de uma política nacional (Editora Humanitas/FAPESP, 2018). Her current project, “The Musicking of Carimbó: Music, Politics, and the Construction of a Brazilian Cultural Heritage,” is funded by FAPESP and integrates the FAPESP “Thematic Project Local Musicking: New Paths for Ethnomusicology.” It investigates the musicking of carimbó and its relations with the universe of public policies, analyzing the implications of the heritagization for the carimbó, as well as the impacts of the ongoing Brazilian political crisis on heritage policies and cultural activism. Muniagurria is currently working on a new book that will combine both doctoral and post-doctoral investigations: following the construction and deconstruction of Brazil's national cultural policy, the book discusses the rise and fall of a particular kind of State, addressing some major shifts in Brazil's contemporary political life.
Ativismo Cultural e a Construção de uma Política Nacional: Notas a partir do Caso Brasileiro
A partir do caso da Política Nacional de Cultura desenvolvida durante os governos Lula e Rousseff (2003-maio/2016), este artigo discute as conexões e as complexas relações existentes entre ativismo, políticas públicas e Estado. Será descrito como, em um momento em que a diversidade e a democracia participativa eram importantes características da vida política brasileira, foi estabelecido um sistema nacional de espaços participativos na área da cultura, resultando na proliferação de conferências e conselhos culturais nas esferas municipal, estadual e nacional. Ao longo de uma década, a existência de fóruns participativos em diferentes cidades do país promoveu uma circulação sem precedentes de fazedores de cultura no território nacional, que puderam assim tomar parte no diálogo com representantes do Estado brasileiro, bem como com integrantes de outros grupos culturais. Baseada em uma etnografia multissituada que acompanhou a circulação de pessoas em diferentes espaços participativos, a pesquisa revela que a criação da Política Nacional de Cultura não foi um processo “top-dow”, pois houve uma série de retroalimentações entre “Estado” e “sociedade civil”. De um lado, a experiência participativa teve um profundo impacto sobre as redes de militância na área da cultura, de outro, fazedores de cultura foram centrais tanto na formulação quanto na implementação da política nacional. Assim, evidencia-se como as experiências de participação social transbordaram, de muitas maneiras, as fronteiras das instituições, e como diferentes maneiras de fazer política (por exemplo, aquelas próprias aos grupos culturais) terminaram por moldar e constituir a política. Inspirada em uma abordagem relacional e antropológica do Estado, argumento que explorar um objeto “institucional” e “estatal”, tal como a democracia participativa, a partir do ponto de vista das experiências e das práticas das pessoas revela a natureza emaranhada de redes de ativismo, de políticas públicas e do próprio Estado, trazendo à luz processos, agências e vozes que, de outra maneira, poderiam ser ignoradas.
Política Cultural, Ativismo Cultural, Espaços Participativos, Democracia Participativa, Antropologia do Estado
Cultural Activism and the Construction of a National Policy: Notes on the Brazilian Case
Drawing from the case of the National Cultural Policy developed during Lula's and Rousseff's administrations (2003-May/2016), this paper discusses the connections and the complex relationship among activism, public policies, and the State. It will describe how, at a time when diversity and participatory democracy were important features of Brazilian politics, a national system of participatory forums was established in the area of culture, resulting in the creation of municipal, state, and national conferences and councils. Over a decade, several meetings took place in different cities, leading to an unprecedented circulation of “fazedores de cultura” across the country. Taking part in this widespread process, many people had the opportunity to engage in dialogue with Brazilian state representatives as well as with other cultural groups. Based on a multi-sited ethnography that followed the circulation of people throughout different meetings and spaces, the research reveals that the creation of the National Cultural Policy was not a top-down process. There were several feedback loops between “State” and “civil society.” The participatory experience of those years had a profound impact on cultural activism networks and, concurrently, “fazedores de cultura” had a major part in the formulation of national policy and implementation. Thus, the investigation shows how participatory experiences overflow the official boundaries of institutions in many ways, as well as how different forms of doing politics – for instance, the ones of cultural groups – came to shape and to be part of the policy. Inspired by a relational and anthropological approach to the State, I will argue that to explore an “institutional” and “state” subject such as participatory democracy from the point of view of people's experiences and practices unveils the entangled nature of activism networks, public policies, and the State itself, revealing processes, agencies, and voices that otherwise could be overlooked.
Cultural policy; Cultural Activism; Participatory Spaces; Participatory Democracy; Anthropology of the State